sexta-feira, 11 de maio de 2012

Terapia

Tem dias que se eu escrevo aqui, eu simplesmente sinto que vou explodir.

Amanhã é a apresentação do dia das mães do Eric. Detalhe: É na APAE.

Uma vez eu vi um video de uma mãe dizendo: O autismo está no meu filho: eu amo meu filho, logo eu amo o autismo.

Muito bonito de se ouvir.

Muito difícil de viver isso.

O tempo do diagnóstico passou e agora a ficha está caindo. A possibilidade do diagnostico ter sido "errado" está se apagando completamente e estou ficando consciente que meu filho é diferente, tem uma sindrome, frequenta a Apae e não é "normal" e embora eu tenho sido muito otimista em um primeiro momento agora nesse momento em que iniciou-se as aulas dele, que os tratamentos iniciaram eu estou parando para pensar e sofrendo um bocado.

E sofrendo por estar sofrendo.

Me culpando por não estar sendo "grata" de alguma forma porque o grau dele nao é severo ou pq ele tem os atendimento ou porque ele é saudável ou pq ele é lindo ou porque ele me olha nos olhos ou porque ele sorri pra mim ou porque ele brinca com a Bianca ou pq ele é sociável com esses ou aqueles ou pq ele é um espírito especial ou porque ele é perfeito ou porque ele me ama ou por isso ou por aquilo...

Mais difícil ainda é aceitar que eu tenho o direito de sofrer e ficar triste.

Hoje a psico me disse que vai passar. Eu sei que vai, mas HOJE DÓI UM BOCADO.

Não sintam pena de mim. Ninguém quer ser digno de pena. Não tô fazendo drama querendo dizer: ó como minha vida é dificil !

Só estou sendo humana.

Só quero que um dia pare de doer. Estou trabalhando por isso.

Tenho refletido o quanto é difícil lidar como inesperado. Minha vida estava pintada em uma quase perfeição porque eu estava vivendo exatamente o que eu sempre planejei e sonhei para mim: ser professora, encontrar um companheiro eterno, formar uma família, ser mãe. Pronto.

Nunca quis ser famosa, talentosa, rica, bem sucedida, mestrada, doutorada, viajada. Só queria ensinar crianças, formar uma família e servir ao Senhor. E aí minha vida é pintada de azul. A cor do autismo.

Eu queria limpar, tirar ela da minha família e viver minha vidinha normal, com dificuldades normais.

E agora eu vou ter que aprender o quanto o azul é bonito. E eu sei que eu vou aprender.

Como hoje quando depois de meses falando pro Eric e apontando ele disse "nariz, boca"

Quando ele no atendimento com  a psico fazia todas as atividades com alegria e super rapidinho cheio de esperteza.

Ou qdo ele levou minha mão a sua blusa e quando eu a tirei ele correu pro banheiro pois queria tomar banho.

Ou agora que ele tá batendo no meu braço porque quer que eu coloque o desenho dele.

Ou quando ele brinca com a Bianca porque sabe que ela vai rir.

Ou quando os olhos dele tão expressivos ficam a cara do pai.

Ou quando ele corre do banho com a toalha e "se enconde" de mim no sofá.

Ou quando ele fecha os olhos achando que vai ficar invisível.

Ou quando ele tem ataque de gargalhada.

Ou quando ele fala "fuuuuuuuuuuuuu" na hora de trocar a fralda.

Ou quando ele chega em casa de mochila nas costas, corre me abraçar e faz carinho no meu rosto.

E embora eu quisesse branco, o azul também pode ser lindo.

8 comentários:

Jacqueline Bento disse...

Pri, este post foi emocionante. Você talvez vai achar estranho o que eu vou te dizer, mas apesar de você talvez estar se sentindo enfraquecida neste momento as tuas palavras me fortalecem e me fazem refletir e acho que você é mais forte do que você imagina. Sempre estou torcendo por você. Bjos. Jacque

A Casca da Cigarra disse...

Estou tão emocionada, tão tocada, tão...sei lá. Não é pena, não se preocupe, é solidariedade, amizade e admiração por sua coragem em se mostrar tão humana.

Adriana Bukowski Rebicki disse...

nossa.. pare agora d eme fazer chorar.

primeiro: lembra daqles pesadelos que conversamos?? aqles que voltam do passado para nos assombrar.
o azul é igual... mas com o passar do tempo novas memórias, boas memórias vão se construindo e tomando conta do espaço que os pesadelos tinham..
ou seja... VAI PASSAR.

te amo muito. to tentando sentir tudo o que vc está sentindo, mas eu só tenho uma coisa pra dizer agora:

eu não conheço ninguém melhor que vc. dificuldades comuns são para os fracos.

vc é uma mãe incrível e este dia das mães deveria ser todo dedicado a vc.

que o Senhor sempre te abençoe em tudo. vc não é "coitadinha" ou digna de pena... VC É DIGNA DE MUITOS E MUITOS LOUROS (não só no fim da corrida, mas desde seu início)


beijo priscileeeeeeeeeee

Ingrid disse...

Lindo o desabafo e estou com a Jacqueline, você me fortalece minha amiga amada! (e ainda é uma expert em posts! Hehe)
Beijos.

Thais Martins Fernandes disse...

que lindo o teu post Pri!!
O jeito que vc escreveu ateh me lembrou a Nie escrevendo...
O blog eh um bom lugar para agente tirar de dentro o que esta sentindo e refletir mais...
Eu imagino que deve estar sendo dificil, mas a sua descricao das coisas que o Eric faz acima soh fez eu pensar, "que lindo! que lindo! que lindo!"

bjsss

Vem desfrutar do Amor de Deus disse...

Oi Pri,
Olha não se esqueça que azul é a cor do céu...lugar onde vive nosso Pai Celestial...que sabe de tudo e comanda nossas vidas...Não tem como sentir pena de uma mulher tão forte como você Pri...E por ser assim, Deus te deu uma missão maior..ele confia em você e sabe que você é a mãe perfeita pra cuidar do Eric..Não...não podia ser outra, tinha que ser você, pois através de suas mãos e o olhar constante Dele, o Eric será feito um grande homem. Apenas coloque em seu coraçao e sua mente que você não está sozinha e verá que no final tudo dará certo. Beijos pra você e tenha um lindo dia das mães junto dessas preciosidades e desse maridão maravilhoso...:)

patricia disse...

Oi Priscila. Há algum tempo eu acompanho seu blog de longinho, e acho lindo o seu dia a dia, suas limitações diante da TPM ou depressão como muitos falam, do seu jeito de lidar com a família,algo tão sagrado. Não sou mórmon, mas admiro com o maior respeito todas aquelas que preservam o casamento e a família. Há duas semanas também passamos por um turbilhão, descobrimos que nosso filho mais velho ,lindo, simpático e educado é sidrômico. Não de uma mas de duas: Neurofibromatose tipoI e síndrome de Klinefeter,além de ter disgrafia e discalculia. Passamos ao longo dos anos por inumeros profissionais e nimguém diagnosticou nada. Agora com 17 anos essa reviravolta. A vida me deu um vasinho que dizia que nasceria margaridas, mas nasceu amor-perfeito, depois de 17 anos que eu cuidei dessa plantinha e aprendi sobre ela descobru que são tulipas. E agora? Agora agradesso a Deus por ele, e somente eu poderia ser sua mãe, pois ele é meu maior tesouro. Também estou vivendo essa dor , esse "luto",até uma certa revolta por ele não ter sido diagnosticado antes, Mas confio no amor de Deus e de seu Filho.Bjs Patricia Paula(Dourados_Ms)

Phoenix Luz-Costa disse...

Sabia que voce e um exemplo e forca para muitas maes por ai, que sofrem com desafios (que aparentemente sao muito menores que os teus), mas que sao de acordo com suas capacidades. Obrigada por ser tao linda, lutadora, fiel e exemplar. Voce me fortalece sempre com seu espirito especial Pri, te AMo! sua prima chata, Phoe