quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

10 de Maio 2020 - Falecimento do meu pai



Darlei Antonio Rebicki tomou seu último chimarrão e após alguns dias lutando na UTI com complicações da diabetes, descansou e juntou-se à polacada no outro lado do véu.
Iratiense, nascido em 16 de fevereiro de 1947, mudou-se ainda jovem com a familia para Curitiba buscando mais estudos, tornando-se Técnico em Agrimensura. Brincava que formou-se na FAFUPI (Faculdade de Funelaria e Pintura) e que “só não terminou a terceira faculdade por falta de tijolo”. Viu seus 5 filhos alcançarem o Ensino Superior nas diversas áreas de interesse, pois os fez livres para seguirem suas vocações.
Nos tempos do exército conheceu, junto com sua família, o evangelho restaurado, tornando-se membro fiel da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Enquanto discursava no púlpito, despertou a paixão de uma menina na congregação. Darlei e Rosana foram casados nessa Terra por 47 anos, seu casamento tornou-se eterno no Templo de Provo. Dessa união, despedem-se seus 5 filhos, genros, noras e 20 netos.
Dedicou-se a Igreja servindo em diversos chamados. Sua voz de locutor ecoava seu testemunho ao discursar e abençoou a muitos quando foi chamado Patriarca. Tinha amor pelo Livro de Mórmon e o lia de capa a capa pelo menos 2 vezes por ano. Foi leitor e contador de histórias e causos. Colecionador de Seleções antigas e amante de história.
Desbravou todo o Paraná, abrindo picada e montando o teodolito pela Sanepar, por onde se aposentou. Fez inúmeros sacrifícios pelos 5 filhos e nos criou com memórias de vida na natureza, na serra do Mar, na praia, na Vila Palmira, na rede...gostava mesmo de uma rede.
Pescador, churrasqueiro, dono do melhor tempero de galeto, conhecedor de plantas e pássaros. Sentava na varanda na Vila Palmira para nos dizer o canto e o nome das espécies que pousavam nas cercas. Conhecia todas e nos lembrava de seus tempos de caçada. As memórias sempre vinham embaladas pelas melhores gauchescas e os melhores filmes de Bangbang.
Piadista, deixa um legado de “piadas do véio Darlei” para que as gerações futuras não “pensem que dormir é emprego”, ensinando que “andorinha que anda com morcego, dorme de cabeça pra baixo”, e lembrando as futuras namoradas dos netos que “ele tem bom gosto mas a senhorita não tem nenhum”.
Foi pai de colocar os filhos no carro e levar pra todo canto nos fins de semana e ficar sem carro por causa deles quando tiraram a carteira. Ele dizia “saudades de colocar todos no carro e levar onde eu queria, agora chega o fim de semana eu só falo “cadê meu carro?”.
Era o puxador das brincadeira da reunião familiar, quem já brincou de “bico”? Quando era sua vez de fazer o lanche era sempre a única receita que sabia: danete caseiro.
Nos ensinou o valor do trabalho (tinha carteira assinada desde os 12 anos), a consertar as coisas, a usar as ferramentas, pintar, cortar grama, a achar solução pra tudo. Nada que uma bela gambiarra não resolva.
Uni-se do outro lado do véu aos seus pais Hipólito e Dalila e sua irmã Delair (Tuta), deixando saudades ao irmão Daclei (Negão).
O véio brabo, sarrista e de espírito forte, deixa-nos ensinamentos, saudades, memórias, receitas, um legado de fé, de trabalho, de aprender sempre, dar valor ao que realmente importa e a saber que parar e tomar um chimarrão olhando os passarinhos é preciso.
Com muito amor nos despedimos até nos encontramos novamente!

Familia Rebicki e agregados!













Nos últimos anos meu pai estava sofrendo muito das consequências da diabetes. Ele entrava e saia do hospital com frequência. Passou os últimos Natais internado. Estava fazendo injeções oculares para evitar a cegueira da diabetes, estava quase precisando de hemodiálise. Ele já não tinha mais a alegria de viver que sempre teve. Não estava podendo dirigir, não conseguia ir para a Vila Palmira como amava. Não conseguia enxergar a rolha da pescaria. Ele não tava legal.

O que absolutamente não tira a dor da sua partida.


Meus pais estavam morando em um apartamento perto dos meus irmãos em Santa Felicidade. Estavam com uma pessoa lá para ajudar, um dia ela ligou para meu irmão Rafael, dizendo que o meu pai estava se sentindo mal e queria ir ao médico. Meu pai tomou banho, trocou de roupa e desceu até o carro onde o Rafael e a Caro o esperavam.

Quando faltava 10 min para chegar no hospital, o pai passou mau e, pelo que a Caro percebeu, parou de respirar, o coração parou. Como estavam já chegando, acharam melhor seguir até o hospital. Lá o pai foi ressuscitado, mas entrou imediatamente em coma. 

Meu irmão nos informou que o pai estava em coma, com a ajuda de aparelhos para tudo, mas que o dano cerebral só poderia ser definido quando o pai parasse de convulsionar. Todos nós  e os médicos sabíamos que esse era um caminho sem volta e uma questão de tempo.

Eu não conseguirei nunca na minha vida agradecer suficiente meus irmãos no Brasil que estão segurando essa barra e ainda cuidando da minha mãe sozinhos. 

Por conta do COVID todas as nossas informações do hospital eram por telefone. 

Meu pai passou um total de 10 dias em coma antes de ser constado o dano irreversível cerebral e que os aparelhos fossem desligados. Eu acho que esses 10 dias foram importantes para nós como filhos, para termos um tempo para digerir, nos preparar, preparar todos os detalhes. Meus irmãos, minhas cunhadas, foram atrás de túmulo, de terreno no cemitério, puderam planejar funeral, decidir o que fazer com a mãe. Tivemos tempo de decidir o que escrever e como anunciar a morte. Foram dias de terrível expectativa mas pelo menos tivemos tempo para nos preparar para o pior. Não foi uma surpresa. 

No domingo dia 10, a noite meu pai se foi. Foi a pior ligação que eu já recebi.

Sentei na varanda de casa, o dia estava quente (aqui ainda era dia) e chorei e conversei em voz alta com meu pai. Eu sei que ele poderia me ouvir. Alí sentada na varanda, uma imagem começou a ser projetada em minha mente e eu vi meu pai chegando aos céus, sorrindo feliz e aliviado, como se tivesse vencido uma grande batalha. Vi meus avós paternos chegando e minha tia, vi os abraços, as piadas, os sorrisos os encontros emocionados. Vi meu pai feliz e era tudo que eu precisava. 

Dalí peguei o carro e fui ao templo. O templo está fechado, mas eu só queria sentar no banco, chorar sozinha e conversar com o Senhor. Quando eu cheguei no templo outra imagem começou a vir na minha mente e eu vi o pai encontrando a família da minha mãe. Ele cumprimentou meus avós Castro Deus, meu tio Jonas  ( que era seu grande amigo), minha tia Claudia e aí meu pai chorou. Eu pude perceber que naquele momento ele lembrou da minha mãe. Acho que ele percebeu a separação disso. Não deve ser fácil.

Voltei para casa, no outro dia recebi o carinho de amigos, ligações, comidas na minha porta, vi o quanto as pessoas se importam. Acompanhamos o velório e o enterro por WhatsApp. Ver meu pai no caixão foi difícil, mas foi muito importante. É uma despedida necessária.

No outro dia eu pedi para o Capis dizer que não iria receber ninguém. Desliguei meu celular e pedi pelo silêncio. Fiquei no meu quarto o dia todo. Eu precisava muito disso e o Capis me ajudou muito. 
Saí do minha reclusão as 7:30 da noite com um vídeo lindo dos meus primos e tios homenageando meu pai. Foi tão lindo e reconfortante. 

Agora é conviver com a saudade e esperar o reencontro. 




 

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