quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

03 de janeiro

*nota ao leitor: exclui o Capis do relato porque ele lidou com tudo isso muito melhor que eu, vamos aos meus fatos.

Desde o fim das comemorações de Natal eu segurei o choro várias vezes ao perceber que o dia 03 de janeiro estava chegando, lembrando desse dia com muita dor ainda. 
Dia 03 do ano passado, eu e minha pequena família fomos ao CENEP do HC de Curitiba, encontrar com a Dra Mariane Welmuth, levando nosso filho que não falava, não respondia pelo nome, não brincava com outras crianças, parecia ter regredido em seu desenvolvimento e tinha algumas manias. Depois de observação e questionários, ela nos confirmou minhas desconfianças de que o Eric se encaixava no espectro autista. 
Engoli a seco, ouvindo todos os bons prognósticos, tirando duvidas, mas com o coração saindo pela boca.

Sabe aquele momento que a Terra está girando, mas você parece que parou ? Meu mundo parou alí. Uma cortina caiu sobre meus olhos apagando todo o futuro que eu tinha imaginado pro meu menininho.

Quando paramos no primeiro sinaleiro, o Capis desabou do meu lado, como eu nunca tinha visto...eu cansada de segurar a dor e o choro, desabei junto...e no banco de trás alheio a tudo, meus bebes, meu tesouros.

E aí minha viagem começou. Eu pensei que aquele choro no carro seria suficiente, mas muitos outros vieram.

E fui em frente. Eu estava andando no escuro, mas seguindo meus extintos fui fazendo uma atividade aqui outra alí. 


 Eu li muita coisa sobre autismo, mas ao invés de ajudar só me fez mal. Ver crianças grandes  e adolescentes autistas só me trouxe mais sofrimento.  (hoje menos)
 Eu não sabia por onde começar. Mas por acaso, numa conversa da minha vizinha, com a sobrinha da minha vó, que tinha um pintor, cujo o filho era autista (o lucas), falou sobre a Apae e eu segui para lá.
 Em Abril o Eric começou suas aulas com a professora Leila e as coisas começaram a acontecer. Tive muita ajuda da Dra Mariane, da profe Leila, da psico Ana Lúcia, das mães da APAE e juntas comemoramos cada conquista nova.
 Esse ano minha viagem foi como uma viagem de barco: foram muitos dias sob forte turbulência, onde eu pude buscar ajuda com o Mestre, que acalma as ondas do mar, e com a ciência.
Muitos outros dias foram de curtir a brisa e contemplar as estrelas ou o sol.
Tiveram noites em que eu gritava com o Senhor e pedi que se a vida fosse de provação, então ele podia me levar para junto Dele de uma vez. Se eu precisava da provação para aprender, então não queria aprender mais nada.

 Tolinha eu. Hoje eu vejo o quanto tudo que eu passei me fortaleceu. E não estou falando de problemas com o Eric em si, mas com a ansiedade, com o medo, com a angustia, com meu metabolismo.


 Com o Eric em si, cada semana e mês, ficamos felizes em ver o quanto ele aprendia, entendia. O Eric OLHA NOS OLHOS e só tendo um filho autista para entender o que isso significa.
Quando ele me olha nos olhos, ele "vejo você" (tá ligado Avatar?). Ele penetra e quer que eu o entenda. Ele quer me mostrar que ele sabe as cores, que ele sabe os nomes, que ele aprendeu. Ele quer atenção.
 Ele hoje pede abraço "abaçuuuuuuuuuu" "besooooooooo". Ele gosta de abraçar as pessoas. Ele gosta de defender a Bianca. Ele sente ciúmes da irmã e não quer gente estranha perto dela. Ele está aprendendo a se SOCIALIZAR e só sendo mãe de autista para entender o que é ver seu filho BRINCANDO com outra pessoa. É maravilhoso.
 Eu aprendi a enxergar pequenas coisas, a entender que eu tenho sim q parar tudo e segurar a mão dele, porque ele quer me mostrar ou pedir algo. Eu tenho que dizer não, mesmo sabendo que vai ser seguido de choro. Eu tenho que desviar o foco de uma forma ou de outra.
 Eu tenho que respeitar o tempo dele e comemorar cada palavra.
Eu posso dizer que estou aprendendo a controlar o leme dessa embarcação. Infelizmente eu não posso definir qual o destino ou onde ele vai me levar, mas eu sei que eu posso DECIDIR como eu vou REAGIR nas tempestades, nas ondas e nos dias calmos.

O que me aquecem o coração, passado esse primeiro ano, é que eu SEI que o Eric é FELIZ. 
Ele pode não saber o que é BEN 10, pode não conseguir me dizer uma frase, me contar como foi na escola ou se ele gostou do passeio, mas ele sorri, sempre, a maioria do tempo. Ele é feliz. Eu consigo fazer meu filho ser feliz.

E ele me faz muito feliz.

10 comentários:

SheiLeao disse...

Pri, como sempre te digo, você é um exemplo de mãe, amiga, mulher! É inspirador ver tua atitude, sou grata por poder ter teu exemplo para ajustar a minha frente aos meus próprios desafios.
Beijo
Shei

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Ingrid disse...

Que anônimo doido! Hehehe

Pri, que post lindo de morrer! Voce é a mãe mais perfeita que o Eric podia ter e por isso vocês se fazem tao felizes! Lindos!

Parabéns pela maneira que lidou neste primeiro ano, que apesar de muitas vezes voce ter se sentido meio que dorrotada esse ano foi uma grande vitoria!

Feliz ano novo, pra vocês 4 e muito amor e saúde pra vocês!

Amo.

Mirna disse...

A maneira como vc escreve, faz com que eu sinta todas as tristesas, angustias, felicidades e realizações tambem... Obrigada por compartilhar esses sentimentos, vc é uma mulher poderosa, sou sua fã viiu?
te amo

Anônimo disse...

Oi Priscila,
Muito lindo o que você escreveu. Sinto-me feliz por ter participado com você deste processo. Com certeza nosso Eric vai se desenvolver cada dia mais, pricipalmente com todo o apoio que você dá a ele. Conte comigo sempre que precisar. Abraços da Profe Leila

Unknown disse...

Oi Priscila....

Realmente lembro-me também desse dia, como de outros que tenho que lembrar... em nome de tantas outras crianças que chegam para mim como o Eric, e de tantos outros pais que sentem seus filhos, sentem que algo está errado, e muitas vezes até perambulam de médico em médico e de profissional em profissional em busca de uma resposta. Para mim nunca é fácil dar essa resposta. Pra vcs também não foi. Foi especialmente difícil por sentir a preocupação de vcs, a Bianca pequenininha e vcs ainda sem nenhuma avaliação prévia do Eric, que muitas vezes facilita o processo de aceitação...
Não quero tornar a história de vcs "como as outras", porque para mim cada criança é única.... mas como vcs, outros pais passam por isso... mas muitos, diferente de vcs, passam por um período tenebroso de negação e somem, como se o problema fosse sumir com isso... O que quero dizer, é que apesar da sensação de pânico que invadiu ... vcs conseguiram manter os pés no chão, superar preconceitos e medos, olhar para frente e dar a volta por cima, de maneira grandiosa.
Isso é muito gratificante... o Eric tem um ótimo potencial, sempre acreditei nisso, mas ele precisava de vcs fazendo esse trabalho todo por ele... de outra maneira ele não teria os avanços que teve...
E vcs dois, a Leila e todos os que cuidam dele, podem ter a certeza que estão fazendo um excelente trabalho!
Esse dia deve ser motivo para comemorar... que o Eric é um menino tão especial, que vcs conseguiram um diagnóstico cedo, conseguiram tratamento, que ele teve tantos progresso, que vcs cresceram tanto como pessoas...
Desejo do fundo do coração que esse sorriso continue iluminando vcs a cada dia!
Um grande abraço,

Mariane

(Espero não ter sido tão dura naquele dia)

Anônimo disse...

Pois é Priscila, para você ver, todos os envolvidos também tem momentos difíceis: pra vocês pais é o diagnóstico e a aceitação; para a médica é dar a notícia e para nós professores é a responsabilidade de receber esta criança e desenvolver as potencialidades dela. Agora, se juntarmos tudo nisso pensando no bem comum que é a crianças e trabalharmos juntos,alcançamos grandes resultados não é mesmo!
Abraços da Profe Leila

Unknown disse...

o seu filho eh lindo Pri!!! Parabens pela familia linda q vc construiu!!!

Anônimo disse...

Que lindo o seu depoimento e muito lindo o seu filho!To conhecendo o blog agora e me encantei!
Abraços Priscila!

Anônimo disse...

Adorei conhecer a estória... é incrível como são os filhos que nos ensinam tanto na vida! Sucesso na sua jornada! Cariny