quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Criança Autista na Primária SUD

Algumas vezes eu recebo mensagem:

"Priscila, temos uma criança autista na primária, como ajuda-la?""

Para iniciar a conversa, a Igreja tem uma página com ÓTIMOS recursos e dicas:

https://www.churchofjesuschrist.org/topics/disability/list/autism?lang=por

Agora vamos as considerações com base na minha experiência e na experiência de outros amigos. Espero que ajude!

1. CONHEÇA A CRIANÇA E SUA FAMÍLIA

O primeiro passo é visitar a família e conversar com os pais sobre os interesses do filho, suas limitações, que funciona para essa criança. As vezes algo que funciona na escola, vai funcionar muito bem na Igreja também.
Essas dicas que eu escrevi abaixo, não são de uma PROFISSIONAL, são de uma mãe que ouviu outras mães, que tem 2 crianças autistas e com um plus de ser pedagoga especializada em Educação Especial. Dito isso, tenha em mente que cada criança é única e cada autismo é único.
Posso dizer por experiência que o que funciona pra um não necessariamente funciona para outros. É um eterno jogo de tentativa e erro.

2. ADAPTE A PRIMÁRIA

Algumas crianças vão precisar de pouca adaptação por parte dos líderes, outras vão precisar de ferramentas e outra de um líder "âncora" responsável só por ele.

2.1: Ferramentas.

Algumas crianças são sensíveis a barulho e precisam de ferramentas que acalmem.

FONES ESPECIAIS PARA DIMINUIR ABAFAR O SOM. Minha filha não precisa para a Igreja, mas na escola ela tem um especialmente quando tem assembléias. E tenho um em casa que eu preciso quando eu uso o aspirador ou o liquidificador, sem o fone ela grita, é um som muito incômodo pra ela. Se vc pensar em crianças que colocam as mãos no ouvido quando tem hinos, pode ter certeza que ela precisa de um.

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CASACO OU COBERTOR COM PESO.

Algumas crianças entram em crise com bastante facilidade ou se sentem inseguras em lugares com muitas pessoas. Essas crianças podem se beneficiar dos casacos com peso ou cobertores com peso. É mais para os autistas moderados e severos (EU ACHO), mas a Bianca por exemplo adora ser confortada com abraço ou casaco pesado.

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2.2 Líder âncora

Uma boa ideia em muitos casos é ter um líder só para a criança, um líder âncora.
Líder âncora é um líder que vai ser chamado para ser a fonte de confiança da criança. Esse líder vai ficar responsável por acompanhar a criança nas aulas, sentar com ele na primária, levar até os pais e eventualmente, se a criança entrar em crise sair da sala, dar uma volta para ela se acalmar. Esse líder vai ficar responsável por todas as possíveis adaptações que forem julgadas necessárias.

2.3 Adaptações

Vai ter autistas que vão precisar dessas adaptações e outros que não. Mesmo assim prefiro contar algumas experiências e dar algumas dicas que podem ajudar.

a. Prepare um cantinho sensorial na sala da primária, afastado das outras crianças, pode contar com uma mesinha com uma atividade que faça ele estar na sala mesmo não participando até que se sinta confortável para estar com outros.
Nesse cantinho descubra o que eles gostam. As vezes uma caixa com dinossauros, ou massinhas, ou papel e giz de cera...qualquer coisa que ajude a criança a distrair do barulho da sala. Muitas vezes esse cantinho sensorial vai ser usado só em caso de crise.
Outras vezes vai ser usado de início e gradualmente retirado até que a criança esteja confortável em estar lá.
b. Prepare uma aula individual para a criança. Se a criança não está confortável, uma aula só pra ele/a ajuda. Depois convide uma criança a mais pra mesma sala, depois duas...até que ele fique bem com a turma toda.
c. Considere colocar a criança em uma sala de aula com outra idade que não a dele. A Bianca fica SUPER bem com as crianças da idade dela. O Eric não. Primeiro porque ele não tem o mesmo intelecto das crianças de 10 anos e uma aula com mais recursos visuais é melhor. Depois a turma de 10 anos tem muiiiiitas crianças. Depois de muito conversar a primária decidiu que o Eric ia assistir a aula da primária junto com a Bianca e tem funcionado super bem. Primeiro pq ele se sente seguro com a Bianca, depois, tem poucas crianças e pra ele é melhor. Alguns autistas preferem estar com crianças mais velhas e tem medo das pequenas por elas serem muito imprevisíveis. Como já disse, cada caso é um caso.

3. SISTEMA DE RECOMPENSA

Esse sistema de recompensa foi uma profissional em autismo que me ajudou a criar.
Funcionou assim,
A cada 15 minutos que ele ficava na primária ele ganhava um check. Se ele ficava os 3 tempos de 15 ele ganhava um pirulito. Se ele ficava nas 3 reuniões ele ganhava o Ipad quando chegava em casa.




Como começava na sacramental, eu marcava os três check mark e na primária eu passava pra professora dele que fazia os checks e me mandava.
Com 3 semanas nesse sistema ele não precisou mais e começou a ficar sozinho os três períodos, mas esse era um lembrete visual do que era esperado dele e foi a salvação.


4. MINHAS CONSIDERAÇÕES DE MÃE.

Foi preciso muita oração e jejum pra saber o que fazer com o Eric. Ele só começou a frequentar realmente a primária aos 6 anos de idade. Antes disso vivi pesadelos. Eu sou aquela mãe que senta na porta da Soc Soc porque se eu ouvir os gritos no corredor eu tenho que sair acudir.
Eu sou aquela mãe que ouve a filha dizer muitas vezes "Eu não quero ir pla igleja, igleja é chato" e levo mesmo assim.
Eu sou a mãe que já assistiu só a sacramental várias vezes e saiu com o filho assim que passaram o sacramento. Eu sou a que fez, por muitas semanas, revezamento com o marido pra ver quem ficava na Igreja quem ia com o Eric pra casa. 
Eu muitas vezes assisti a ala do outro horário.
Mas eu nunca perdi um sacramento. O Eric e suas crises não são razão para perder a Igreja. Nunca foram. Foram na verdade a razão de eu buscar ainda mais por respostas. E elas vieram. Não facilmente mas vieram. Hoje eu colho os frutos dessa decisão e consigo até fazer o Vem e Segue-me em casa com uma certa frequência. 

As consequências de nunca ter desistido acho que ainda vou colher mas por enquanto eu posso dizer
EU SEI QUE É DIFÍCIL
EU SEI QUE FICA MELHOR
EU SEI QUE VALE A PENA.

Tudo bem chorar algumas domingos, ficar doida, voltar arrasada pra casa. Mas insista. Insista. 
Lembre-se Quem está ao seu lado e que Ele ama você e seus filhos. 



Um comentário:

Vanessa Gomes batista disse...

Obrigada por compartilhar suas experiências! Inspirador.